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sexta-feira, 22 novembro 2024

Vacina: adulto ‘esquece’ de se imunizar, mas isso pode salvar vidas

Entre dezembro de 2016 e meados de 2017, o Brasil viveu o maior surto recente de febre amarela silvestre, transmitida pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes. Pelos dados do Ministério da Saúde (MS), foram 2.946 casos da doença de lá para cá, com 755 mortes registradas.

No ano seguinte, foi a vez do sarampo, doença que na forma autóctone (adquirida dentro do país) não era registrada havia 18 anos. O governo informa que, de fevereiro de 2018 até 21 de janeiro deste ano, foram 10.302 registros, com 12 mortes.

Em ambos os casos, estes números poderiam ter sido bem menores se os adultos tivessem o hábito de se vacinar. De extrema importância, a imunização não apenas salva vidas, como mantém o controle ou a erradicação de diversas patologias no mundo.

Atualmente, o Ministério da Saúde oferta quatro tipos de proteção para as faixas etárias mais elevadas na rotina do Calendário Nacional de Vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS). São elas: Hepatite B, dT (difteria e tétano), Febre Amarela e Tríplice Viral (sarampo, caxumba e rubéola).

Para grupos prioritários, entre eles adultos com indicativos específicos e idosos, em campanhas anuais, também está à disposição a vacina contra a influenza (gripe).

Especificamente para gestantes e profissionais da saúde que atuam em maternidades e unidades de internação neonatal, atendendo recém-nascidos e crianças menores de 1 ano de idade, é disponibilizada a dTpa (difteria, tétano e pertussis acelular).

Por fim, para indivíduos a partir de 60 anos, não vacinados e que vivem acamados e/ou em instituições fechadas, é recomendada a Pneumocócica 23 Valente, contra pneumonia, otite, meningite e outras enfermidades causadas pela bactéria pneumococo.

Há ainda as complementares ofertadas na rede privada. Para adultos de até 50 anos, as opções são Hepatite A; Hepatite A e B (combinada); HPV; Varicela (catapora); Dengue; Pneumocócicas conjugadas 10-valente (VPC10) e 13-valente (VPC13), contra pneumonia, meningite e otite; Meningocócica B, Meningocócica C conjugada e Meningocócica conjugada quadrivalente – ACWY, as três últimas contra doença meningocócica. Para pessoas com mais de 50 anos, entra na lista a Herpes zoster.

“Todas essas estão disponíveis, mas, para que sejam efetivamente aplicadas, é necessário um pedido médico. Isso porque cada uma tem suas indicações e contraindicações”, pontua Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm Nacional).

Por que o adulto não se vacina?

Apesar de o governo oferecer diversas vacinas gratuitamente em todo o território nacional, dados do documento Coberturas Vacinais no Brasil, apresentado pelo MS em 2015, mostram que as taxas de proteção entre os adultos estão abaixo do ideal – que varia entre 95% e 100%, dependendo da patologia que se está combatendo.

A da influenza, por exemplo, em 2014 ficou em 86,1%. Já a da Hepatite B, em 61,9% na faixa etária de 20 a 24 anos; 55,9%, na de 25 a 29; 20,8%, na de 30 a 39; 14%, na de 40 a 49, e 11,8%, na de 50 anos ou mais.

E as razões para isso são várias. Segundo Eliane Matos dos Santos, médica da Assessoria Clínica da Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), “a primeira delas é que muita gente acredita que vacina é apenas para criança, desconhecendo que existe um calendário específico para quem tem a partir de 20 anos”.

Além disso, há quem tenha medo das reações. “Algumas eventuais, como dor no local da aplicação e febre baixa, até ocorrem, mas a doença é sempre mais grave do que os eventos adversos que a vacina pode causar. O importante é o profissional de saúde estar bem preparado para informar e orientar” acrescenta a especialista.

Ela ainda aproveita para afirmar a segurança deste tipo de proteção: “Antes de serem registradas e colocadas à disposição nos postos de saúde, as vacinas passam por uma série de estudos clínicos bem criteriosos. Até elas chegaram ao mercado pode demorar de cinco a 15 anos, e mesmo depois de licenciadas continuamos fazendo o acompanhamento”.

Para Cunha, da SBIm Nacional, o que também faz com que o adulto não se vacine é a falsa sensação de segurança. “Como muitas doenças estão controladas, as pessoas acham que não precisam se imunizar. A maioria só vai atrás quando as notícias começam a aparecer com mais frequência e, principalmente, quando ocorrem mortes, como aconteceu com o sarampo e a febre amarela.”

Outra questão que dificulta a busca pela vacina são as fake news, divulgadas o tempo todo nas redes sociais e nos aplicativos de conversa. Combatê-las não é tarefa fácil, porém, o MS informa que diariamente avalia mais de 7 mil menções do que pode ser um foco de desinformação proposital para espalhar boatos sobre saúde e, caso necessário, realiza uma intervenção para esclarecê-las.

E não dá para deixar de citar os grupos antivacina. Apesar de ainda serem pequenos no Brasil, em comparação com os Estados Unidos e alguns países da Europa, eles também acabam tendo impacto negativo na busca por imunização. Assim como a restrição de horário da rede pública. “O padrão atual é incompatível com o da maioria das famílias. Seria preciso estender o funcionamento dos postos ou abri-los aos finais de semana”, indica o presidente da Sociedade Brasileira de Imunização.

Para atrair os adultos

Para contornar essa situação, a médica da Bio-Manguinhos-Fiocruz recomenda que se façam parcerias com universidades e templos religiosos para a realização de palestras sobre o tema. “Médicos, em especial os mais respeitados, também precisam alertar a população, seja em seus consultórios ou nos meios de comunicação.”

Sobre essa questão, o Ministério da Saúde informa que atua fortemente na disseminação de informações sobre a importância da vacinação em suas mídias, com esclarecimento de dúvidas e interação nas redes sociais, além de debates com as sociedades médicas brasileiras.

O órgão do governo federal diz que “recomendar a cobertura vacinal homogênea no país é um trabalho constante e que, periodicamente, a coordenação do Programa Nacional Imunizações (PNI) emite notas técnicas para estados e municípios sobre o tema, além de orientar os gestores locais que organizem suas redes, inclusive com a possibilidade de readequação de horários mais compatíveis com a rotina da população brasileira”.

Outra orientação do MS é o reforço das parcerias com creches e escolas, “ambientes que potencializam a mobilização sobre a vacina por envolver também o núcleo familiar”.

O que são as vacinas?

Como explica a SBIm Nacional, “as vacinas são o meio mais seguro e eficaz de nos protegermos contra certas doenças infecciosas”.

Elas são obtidas a partir de partículas do próprio agente agressor, sempre na forma atenuada (enfraquecida) ou inativada (morta), e atuam de forma a estimular o sistema imunológico a combater os “invasores”.

Vale destacar que, por ser uma imunização ativa, a vacina depende da resposta do sistema imunológico de cada indivíduo, sendo que a maioria dos que estão saudáveis respondem adequadamente a ela.

No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) oferece 19 vacinas, iniciando-se com os recém-nascidos.

Línea

Calendário de vacinação – adultos de 20 a 59 anos

Hepatite B: 3 doses, de acordo com a situação vacinal

Febre amarela: dose única, se nunca tiver sido vacinado

Tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola): se nunca vacinado, 2 doses (20 a 29 anos) e 1 dose (30 a 49 anos)

Dupla adulto (DT) (difteria e tétano): reforço a cada 10 anos

Pneumocócica 23 Valente (pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo pneumococo): 1 dose para grupos-alvo específicos a depender da situação vacinal

60 anos ou mais

Hepatite B: 3 doses, de acordo com a situação vacinal

Febre amarela: dose única, se nunca tiver sido vacinado

Dupla adulto (DT) (difteria e tétano): reforço a cada 10 anos

Pneumocócica 23 Valente (previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas por pneumococo): 1 dose para grupos-alvo específicos a depender da situação vacinal

Fonte: Ministério da Saúde

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