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sábado, 21 dezembro 2024

Do pão francês ao turismo: coronavírus já causa estragos na economia brasileira

Desde a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, o mercado financeiro reage com preocupação ao avanço da doença no país. Embora o Banco Central tenha admitido que os próximos 15 dias vão permitir uma “análise mais precisa” sobre os impactos que o vírus causará na economia brasileira, os efeitos imediatos do Covid-19 já são percebidos.

A desvalorização do real frente ao dólar, por exemplo, bate recorde diário desde que o Ministério da Saúde confirmou a chegada do coronavírus ao país. Entre 26 de fevereiro e 5 de março, a cotação da moeda americana saltou de R$ 4,44 para R$ 4,65. O real é a moeda que mais se desvalorizou em comparação ao dólar em 2020.

A incerteza dos investidores se reflete, também, na queda significativa da Bolsa de Valores. Dos quase 113 mil pontos na semana que antecedeu o Carnaval, para menos de 100 mil na manhã da última sexta-feira (6). É o menor patamar desde agosto do ano passado.Segundo Marcelo Godke, professor de direito comercial do Insper, os impactos da propagação do coronavírus no mercado brasileiro eram naturais, uma vez que os investidores se antecipam à confirmação dos primeiros casos no país.

“Quando há algum tipo de ameaça à economia global, os investidores tendem a comprar ouro, dólar, que são ativos considerados bastante fortes. Imagina-se que vá acontecer uma redução da velocidade do crescimento da economia mundial. Então, há uma corrida para se adquirir o dólar. Por conta disso, o real acaba se desvalorizando”, explica.  

Impactos
Não são apenas os investidores com ações na bolsa que sentem as consequências do coronavírus. Quem deseja viajar para o exterior, por exemplo, já está pagando R$ 4,86 por cada dólar. Em algumas casas de câmbio, a moeda chega a custar mais de R$ 5, a depender da forma de pagamento. Além dos impactos sobre o turismo, Marcelo Godke acredita que é possível que itens de primeira necessidade do brasileiro seja afetados em breve.

“O principal insumo do pão é a farinha, que é feita de trigo. Por ser boa parte importado, o preço dele vai variar de acordo com a cotação do dólar. Então, se o dólar se tornar mais caro, a gente tem uma tendência de ver acréscimo no preço do pãozinho, da massa. Pode ser que isso tenha um impacto inflacionário, que a gente comece a sentir logo nas próximas semanas”, projeta Godke.

As compras no exterior também estão mais caras com a valorização da moeda americana. Fica mais difícil importar produtos e serviços de fora do país, uma vez que a maioria das empresas de comércio eletrônico, por exemplo, vende em dólar.

Alguns setores da economia notaram desaceleração nas atividades. Segundo a Associação Brasileira de Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), 57% das empresas enfrentam problemas para receber materiais, componentes e insumos da China. A situação é mais observada entre os fabricantes de produtos de tecnologia, como celulares e computadores.

O setor de eletroeletrônicos importa 42% dos insumos da China, o que o torna dependente da indústria do país asiático. A fábrica da LG e unidades da Samsung e da Motorola suspenderam a produção no Brasil, devido à falta dessas peças.

Projeções
O diretor da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, projetou que a epidemia de coronavírus terá um impacto “substancial” na economia global. Segundo ele, as próximas semanas vão apontar em que medida isso vai ocorrer. Vale lembrar que a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) reduziu a previsão de crescimento da economia mundial de 2,9% para 2,4%. A OCDE apontou o coronavírus e a queda na produção chinesa como as causas principais.

Especialistas estimam que a economia brasileira deve crescer menos do que o esperado neste ano, por causa do coronavírus. Alguns apontam que só o Covid-19 seja responsável por queda de 0,2% a 0,3% no Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. A fim de evitar perdas internas, o Conselho de Política Monetária (Copom) já sinalizou que pode reduzir novamente a taxa básica de juros. Para Marcelo Godke, a baixa produtividade de vários setores devem prejudicar o crescimento do país.

“É difícil achar que não vai ter impacto negativo. Deve sim, porque vai ter uma redução da atividade econômica no setor aéreo, de alimentação, transporte, turismo, o pessoal que trabalha no setor de informática, vai ter uma redução da atividade. É muito difícil acreditar que não vai afetar”, indica o especialista do Insper.

Possíveis perdas na área econômica também são motivo de preocupação por parte das autoridades de saúde. Segundo o Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, o objetivo é trabalhar para que país esteja preparado para controlar a chamada transmissão comunitária ou sustentada do coronavírus, que ocorre entre indivíduos que não viajaram e nem tiveram contato com pessoas que estiveram no exterior.

“A gente vai considerar uma transmissão de modelo de segurança condizente com a nossa realidade social, urbana e estrutural, porque o que nós menos queremos é impacto na nossa economia, impacto na nossa sociedade, impacto nas nossas atividades diárias”, ponderou Oliveira.

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EDIÇÃO IMPRESSA Nº 127 | DEZEMBRO/2024

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