– Precisamos fazer uma reunião! Disse um dos condôminos do prédio. “Assim não dá para continuar, tenho pago uma taxa alta de água que não uso tanto assim, sei que precisamos dividir a conta, mas deve ser equitativamente”. O vizinho do terceiro andar concordou. Havia uma grande discrepância na divisão do pagamento da conta d’água, e precisava se fazer justiça a quem estava sendo afetado. Marcada a reunião, compareceram cinco dos seis representantes de cada apartamento, o que faltara fora o que estava sendo mensalmente lesado.
Reunião acertada, no dia o síndico começou a falar: “Boa noite a todos! Como sabem, houve um pedido para que nos reuníssemos para resolver o problema da divisão do valor da conta d’água, concordei que era justo revermos os valores já que há situações diversas em nosso prédio”. Eram todos amigos (supunha-se), conheciam-se do prédio, da mesma empresa, tinham ideais afins… fácil seria resolver aquela pendenga. Conta de água? Isso não seria problema para “aguar” amizades consolidadas… o vizinho do terceiro andar tinha esposa e dois filhos, ele e a esposa, trabalhando, tinham lá a sua cota de gasto d’água. Seu vizinho de andar, o mesmo e mais um filho, todavia só o chefe da casa trabalhava; os do segundo, três adultos e um cachorrinho; o outro, uma filha pequena. Nesse andar, todos os adultos trabalhavam. No primeiro, moravam o “lesado” com a sua esposa, que além de trabalharem, não paravam em casa; e no outro apartamento, outra família composta de dois adultos e duas crianças.
Falou o síndico: “Embora recebamos uma conta única de consumo de água do nosso prédio, dividi-la em cotas iguais por seis apartamentos não me parece justo, e justa é a reclamação do nosso amigo do primeiro andar. Sabemos que há apartamentos que consomem mais do que outros, por isso há uma proposição para dividirmos levando em conta o número de adultos por lar, e todos precisam concordar para que ajustemos essa divisão, o que acham?”, “Bem, me parece justo”, disse um. “É verdade”, disse outro. “Apesar de eu ter que pagar um pouco mais, não vai ser tanto assim, e eu também reclamaria se estivesse na situação do colega do primeiro andar”. Parecia se ajustar a situação simples, mais adultos, cota maior. Porém… “Mas assim eu vou sair prejudicado!”, retrucou o mais favorecido de todos. “Lá em casa somos em cinco, meus filhos podem ser considerados adultos, então eu vou ter que pagar por cinco! Então não posso concordar com isso!”.
Por um instante houve um olhar recíproco e réprobo…quem mais se beneficiava com a situação, beneficiava-se com a injustiça causada a um colega de trabalho, com um vizinho, com um próximo. Não houve empatia, nem integridade, não houve ética. E não é assim o nosso mundo? Coloca-se em prática o famoso bordão: “Farinha pouca, meu pirão primeiro”. Enquanto isso, diz o homem de Nazaré: “…e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lucas 10:27). A Palavra ecoa, mas os corações se endurecem.