Neste domingo (17), a Unesco, em reunião em Istambul, escolheu o Conjunto Arquitetônico de Pampulha, de Belo Horizonte, para compor a lista de patrimônio cultural da humanidade. Dessa forma, o Brasil passou a contar com 20 patrimônios reconhecidos pelo organismo da ONU.
A escolha não foi fácil, 21 sítios concorreram à lista da instituição. Figurar na lista, que hoje inclui 1.031 sítios em 163 países, pode ajudar a facilitar a liberação de apoios financeiros para a preservação e estimular o turismo.
A informação foi comemorada pelo Ministro da Cultura, Marcelo Calero. Em sua conta no Twitter, Calero postou neste domingo: “Viva! Pampulha Patrimônio Mundial!”
A indicação da Pampulha foi ratificada pelos 21 países integrantes do comitê, por consenso, informou o Ministério da Cultura. Era o único representante brasileiro na disputa.
Encomendado pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, ao arquiteto Oscar Niemeyer, o conjunto contou também com trabalhos de Roberto Burle Marx, no paisagismo, e Candido Portinari, autor do painel externo de azulejos da Igreja de São Francisco de Assis.
Também participaram do projeto original o engenheiro Joaquim Cardozo e os artistas Paulo Werneck, Alfredo Ceschiatti, August Zamoyski e José Pedrosa. Construído nos primeiros anos da década de 40, o conjunto antecipa conceitos arquitetônicos que viriam a ser aplicados anos mais tarde na construção de Brasília.
Compõem o Conjunto Moderno da Pampulha a paisagem que se forma com a integração entre a Lagoa da Pampulha e sua orla, os jardins de Burle Marx, a Igreja de São Francisco de Assis, o antigo Cassino (atual Museu de Arte da Pampulha), a Casa do Baile (atualmente Centro de Referência em Urbanismo, Arquitetura e Design de Belo Horizonte), o Iate Golfe Clube (atual Iate Tênis Clube) e a Praça Dalva Simão (antiga Santa Rosa).
Além das obras de Niemeyer, a paisagem do Conjunto também é composta por jardins projetados por Roberto Burle Marx, painéis em azulejos do pintor Cândido Portinari e esculturas de artistas reconhecidos, entre eles Alfredo Ceschiatti e José Alves Pedrosa.
Em nota oficial, os ministérios das Relações Exteriores e o da Cultura destacam que o comitê recomenda que o Brasil restaure elementos do complexo, amplie o plano de gestão para incorporar os compromissos assumidos no processo de avaliação da candidatura, estabeleça uma estratégia de turismo para a área e adote medidas para melhorar a qualidade da água da lagoa. “Essas providências exigirão a ação conjunta dos governos federal, estadual e municipal, em harmonia com a comunidade local”, disse os ministérios, em nota.
“A Unesco, ao reconhecer o valor universal excepcional da Pampulha, considerou o conjunto como símbolo de uma arquitetura moderna distante da rigidez do construtivismo e adaptada de forma orgânica às tradições locais e às condicionantes ambientais brasileiras. Essa abordagem pioneira, fruto da colaboração entre Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx e Candido Portinari, entre outros grandes artistas, criou uma nova linguagem arquitetônica fluida e integrada às artes plásticas, ao design e à paisagem”, acrescentaram os ministérios.
A Igreja São Francisco de Assis da Pampulha foi inaugurada em 1943. O projeto arquitetônico da igreja, que é considerada a obra-prima do conjunto, é de Oscar Niemeyer. Seu interior abriga a Via Crúcis, constituída por catorze painéis de Cândido Portinari, considerada uma de suas obras mais significativas. Os painéis externos são de Cândido Portinari (painel figurativo) e de Paulo Werneck (painel abstrato).
A sagração da igreja pela arquidiocese, entretanto, aconteceu somente 14 anos depois da inauguração. As autoridades da igreja argumentavam terem se sentido incomodadas com a criação de Portinari, que representou um São Francisco irrealista e de mãos desproporcionais.
No entanto, segundo jornalistas da época, o real motivo do descontentamento dos representantes da igreja seria a forma da construção refletida na lagoa: ela lembraria a foice e o martelo do comunismo, ao qual Niemeyer sempre esteve vinculado.
O brasileiro Niemeyer (1907-2012) é o autor de notáveis projetos arquitetônicos no Brasil e no exterior, entre os quais se destacam os edifícios e palácios de Brasília, a Sede da Organização das Nações Unidas em Nova York e a Sede do Partido Comunista Francês em Paris.