O mercado de trabalho brasileiro coleciona números negativos: são 13,8 milhões de desempregados, a maior parte deles jovens e trabalhadores de baixa escolaridade, e a taxa de desocupação ainda se encontra em patamares historicamente elevados, acima de dois dígitos. Embora, à primeira vista, a constatação sobre o mercado de trabalho possa parecer desanimadora, há números que indicam uma possível reversão desse panorama, a começar pela própria taxa de desocupação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Até março deste ano, a taxa acumulada nos três primeiros meses apontava que 13,7% da população economicamente ativa não tinham uma ocupação, formal ou não – o pior resultado dos últimos anos. O trimestre seguinte, no entanto, mostrava uma taxa levemente mais baixa: até abril, era de 13,6%. E, em maio, o indicador voltou a registrar números menores: 13,3%.
Embora ainda bastante elevada, a taxa vem perdendo força, o que, para analistas, permite constatar que, no mercado de trabalho, talvez o pior já tenha ficado para trás. “Uma taxa de desemprego de dois dígitos dificilmente seria um motivo para celebrar, mas dados melhores do que o esperado sobre o emprego nos permitem ter sinais encorajadores para as perspectivas de recuperação econômica do Brasil”, escreveram os economistas Jankiel Santos e Flávio Serrano, em análise para clientes do banco japonês Haitong.
Pelo segundo mês consecutivo, houve um aumento no número de pessoas que procuravam emprego, fator que contribui para pressionar a taxa de desemprego. “No entanto, o número de pessoas ocupadas conseguiu superar esse contingente de pessoas que estão em busca de trabalho, o que significa que houve uma demanda mais forte para os trabalhadores do que a força de trabalho foi capaz de fornecer”, reforçam os economistas.
Em março, eram 14,2 milhões de pessoas sem ocupação. No mês seguinte, 14 milhões de pessoas. E, em maio, eram 13,8 milhões. Em média, a cada mês, 200 mil pessoas deixaram as estatísticas do desemprego – isso num momento em que há mais pessoas buscando trabalho, o que, em tese, deveria forçar a taxa de desocupação para cima.
Redução e remuneração
O diretor de pesquisa econômica para a América Latina do banco Goldman Sachs, Alberto Ramos, mencionou a melhora na remuneração dos trabalhadores, e constatou: “Hoje, já é possível notar sinais de estabilização no mercado de trabalho brasileiro”, escreveu.
Mesmo com o número ainda elevado de desempregados no País, Ramos destacou que os salários reais pagos a quem tem trabalho estão crescendo mês a mês, impulsionados “em grande medida” pela redução da inflação. Em maio, no acumulado em 12 meses, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou 3,6% – o menor patamar em 10 anos.
“Olhando para a frente”, ponderou Ramos, “esperamos que a dinâmica do mercado de trabalho se estabilize, a partir do segundo semestre do ano, e que comece a se recuperar já no final do ano”, mencionou o economista, frisando que a recuperação dos empregos virá acompanhada de maior poder de compra dos trabalhadores, em função da queda da inflação.