Quando criança, eu ia ao circo. Entre espantos e risos, comia meu algodão doce. Temia que o equilibrista caísse, o engolidor de fogo derretesse, o coelho não saísse da cartola do mágico. Tudo era encanto. O que havia naquela tenda enorme amarrada em tocos fincados no chão? Quando lá dentro, música, cores e movimentos! Alegria! E vivi uma infância alegre. O circo era parte do meu mundo. Hoje o mundo faz parte do circo. Há espantos, nem sempre os risos.
Os cidadãos se tornaram equilibristas, engolidores de fogo, mágicos.
Os tempos são outros. Sim, são. Muitos querem ver o circo “pegar fogo”, querem ver o equilibrista cair da corda que já é bamba e se esborrachar; querem ver o fogo queimar as entranhas do engolidor de fogo; querem ver a cara de tacho do mágico ao se deparar com o sumiço do coelho. É cada um por si. E Deus não é por todos, pois nem todos aceitam Seu senhorio. Já não há mais o macaco, o elefante e os cavalos; agora, só o homem. Humanizou-se os animais, todavia deixaram o animal humano. E no circo do mundo, este é uma fera. Não fora o freio de Deus, e tudo já estaria consumado. Porém Ele é paciente e longânimo. Na medida em que se “humanizam” os animais, as bestas-fera-homens se aproximam daquilo que é intitulado de “selvagem”.
Mas o apóstolo Paulo, em sua carta aos Romanos, já alertava que “Pois o que faço não é o bem que desejo, mas o mal que não quero fazer esse eu continuo fazendo” (7:19). Ele era um homem culto, versado, estudioso da Palavra, conhecedor do poder, da justiça e do amor do Senhor, e mesmo assim percebia a força que o mal exercia em seu ser! Há muitos “Paulos” lutando contra si mesmos, tentando abafar o mal que emana dos seus corações, o mal despertado ainda no Éden, transferido para a humanidade pelo DNA, incentivado pelo inimigo de Deus, cultivado pelos homens sem-Deus. Há muitos que não se importam com as quedas dos equilibristas, não há compaixão; não se importam com as necessidades que queimam os desfavorecidos, não há empatia; não se importam com o sumiço dos direitos dos cidadãos, não há justiça.
Sim, os tempos são outros, todavia o homem continua adâmico, desobedece ao Criador e ainda O culpa, transfere o seu erro para o outro, aponta o dedo para o próximo, e assim caminha a humanidade! Egoísta, irresponsável e soberbo o homem verá, sim, o “circo, o qual criou, pegar fogo” no dia do Senhor, pois não creu no que está escrito: “E Deus ordenou que a terra e os céus sejam reservados para uma grande fogueira no dia do juízo, quando todos os homens ímpios perecerão” (2Pe 3:7). É tempo de alegrar-se, sim, mas não no “circo do homem”, e sim no Reino de Deus!